O termo “barroco” é usado desde o século XIX para descrever o período da música da Europa Ocidental de 1600 a 1750. Comparar algumas das maiores obras da história da música a uma pérola disforme pode parecer estranha para nós hoje, mas para os historiadores do século XIX que aplicaram o termo, a música da era de Bach e Handel se mostrava excessivamente ornamentada e exagerada.
Estudaremos neste texto um pouco das composições, evolução e crescimento de um dos períodos mais ricos e diversos da história da música. Na "linha do tempo" abaixo, pode-se visualizar de maneira mais clara a evolução musical com as nomenclaturas usadas em cada período.
O PERÍODO BARROCO
O período barroco traz obras tradicionais até os dias atuais, como “Canon” de Pachelbel e as Quatro Estações de Vivaldi. Em outras áreas a era barroca também expandiu muitos horizontes. Há um considerável avanço científico e tecnológico nesta fase, como Copérnico com uma nova teoria sobre os planetas. Em seus estudos a terra deixa de ser o centro do universo e passa a girar em torno do sol, assim como todos planetas.
A invenção do telescópio trouxe uma nova visão ao homem, possibilitando ver que o que se acreditava ser finito parecesse infinito, tornando a dimensão do todo ainda maior. Grandes pensadores como Descartes, Hobbes, Spinoza e Locke abordaram as grandes questões da existência, e gênios como Rubens, Rembrandt e Shakespeare ofereciam perspectivas únicas por meio de sua arte.
As nações européias se envolveram cada vez mais com o comércio exterior e a colonização, colocando-nos em contato direto com partes do globo que antes não eram familiares. Fora isso, o crescimento de uma nova classe média deu vida a uma cultura artística muito dependente dos caprichos da igreja e da corte.
COMPOSITORES E COMPOSIÇÕES
O “contraste” é algo importante nas características das composições do período barroco. As diferenças entre intensidades, andamentos, obras para instrumento solo e conjunto (como no concerto), diferentes instrumentos e timbres desempenham um papel importante em muitas composições barrocas.
Os compositores também começaram a ser mais precisos ao determinar a instrumentação, especificando os instrumentos necessários para uma peça ser tocada, em vez de permitir que o intérprete escolhesse. Instrumentos brilhantes como o trompete e o violino também cresceram em popularidade.
Em épocas musicais anteriores, uma peça musical consistia em uma única melodia, talvez com um acompanhamento, ou várias melodias tocadas simultaneamente. No período barroco o conceito de “melodia” e “harmonia” começou verdadeiramente a ser articulado.
AS PAIXÕES
A Paixão do nosso Senhor Jesus Cristo (BWV 244) de Johann Sebastian Bach conta a história da crucificação de Cristo de acordo com os quatro evangelhos canônicos (aqueles de Mateus, Marcos, Lucas e João). Na liturgia católica romana estes textos são recitados na semana santa, sendo o de Mateus no domingo de ramos, o de Lucas na quarta-feira, Marcos na quinta-feira e o de João na sexta-feira santa. Estes textos possuem a séculos padrões melódicos especiais para esta recitação.
Com o passar do tempo a narrativa dos evangelhos foi sendo apresentada por mais de um cantor, diferenciados conforme os personagens, Cristo, Pilatos, Evangelista, entre outros. Este elemento dramático tornou-se parte regular das cerimônias desde o século XIII, assim como as de Natal. No início do século XIV a polifonia foi introduzida nas paixões para maior elaboração da tradição litúrgica. Os luteranos da Alemanha conceberam alguns tipos de paixões utilizando as formas musicais da época, como a Paixão Oratório, a Paixão em Ópera e a Meditação Lírica sobre a Paixão.
Bach escreveu cinco “Paixões”, das quais três foram perdidas. A forma usada por ele foi a de Oratório, na qual o texto bíblico é interrompido por episódios meditativos, interlúdios instrumentais e melodias corais luteranas com harmonização inovadora para a época.
Esta obra teve sua primeira apresentação (provavelmente) em 11 de Abril de 1727, sexta-feira santa, na Igreja Luterana de São Tomás, em Leipzig. O texto que sustenta esta grande obra é o do capítulo vinte seis, na primeira parte, e do capítulo vinte sete do evangelho de são mateus, na segunda parte, com o sermão do culto da sexta-feira santa, originalmente concebido para ser dito entre as 2 partes.
O narrador da história é o evangelista Mateus, na voz de tenor acompanhado por acordes secos do baixo contínuo. Os personagens da história ganham vida na voz de vários solistas. As falas de Jesus são confiadas a um baixo com acompanhamento sempre sustentado nas cordas, criando um impressionante efeito. As situações narradas pelo evangelista são comentadas pelos cantores solistas, em forma de árias meditativas. A Paixão Segundo São Mateus é uma composição colossal, a história da agonia e crucificação de Cristo contada através dos mais elaborados recursos musicais de um dos maiores compositores de todos os tempos, Johann Sebastian Bach.
Na primeira parte: Jesus anuncia sua morte / a decisão de caifás de prendê-lo e matá-lo é expressa / Jesus é ungido com óleos caros / Judas negocia o preço da traição / a última ceia / a agonia de Cristo no jardim das oliveiras / o beijo da traição de Judas e a prisão de Jesus.
Na segunda parte: os falsos testemunhos / Jesus ante Caifás e Pilatos / as negações de Pedro / Suicídio de Judas Iscariote / entrega e flagelação / condenação à morte / coroa de espinhos / Via crucis / Crucificação / morte e enterro.
CURIOSIDADES
Depois de ser ignorada por décadas, a música barroca tornou-se cada vez mais popular nos últimos cinquenta anos. Instrumentos de cordas como violino, viola e violoncelo usavam cordas de intestino de animais em vez das cordas enroladas em metal com as quais são amarradas hoje, por exemplo, dando-lhes um tom mais suave e doce.
Muito interessante,